quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tom Noturno*

A noite tem uma hora morta, e a vida que nela se esconde, jaz nos corpos que se entrevem através da misteriosa névoa de nicotina.

Passeando os olhos pelo salão, ao ritmo da música conduzida por mãos maliciosas, não é difícil deparar-se com olhares que prometem o que nunca cumprirão; o movimento de línguas sobre os lábios pronunciam imperceptíveis palavras e desejos obscenos, que só o pensamento mais honesto e altruísta saberá interpretar - afinal, é preciso levar felicidade e prazer a quem os pedem.

Do lado de fora, as ruas silenciosas espreitam com suas luzes amarelas. As conversas que se misturam ao som dos instrumentos trazem em suas letras sempre a variação de uma paixão, a fim de seduzir e encontrar a satisfação. Todos que estão neste salão o sabem, e por isso dançam com prazer, erguem seus drinks no balcão, tocam suas pernas sob a mesa e insinuam a volúpia em cada um de seus movimentos.

Mas nenhuma promessa feita em uma dessas horas mortas pode ser, de fato, esquecida. A não ser que os corpos apaguem o fogo que o olhar, com sua intensidade, fez surgir. Só assim haverá sentido e harmonia no salão, que em sua penumbra, zela com alegria os corpos e promessas feitas, na noite que termina em jazz.

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