terça-feira, 2 de março de 2010

Penélope Cruz*

"Não quero lirismo que não seja fruição"
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Eu não a conhecia. Ela saiu do banho - este momento de tanta feminilidade -, enrolada em uma toalha branca; os cabelos presos, a nuca, os braços e as pernas nuas, frescas. Caminhou na sala escura e vazia e parou em frente a uma grande janela cortinada. Trivialmente.

Eu exitei, mas minhas pernas não. Fui em direção a ela e me aproximei de suas costas. Apenas os ombros visíveis, turvando minha razão, movendo por dentro - toda sensualidade do mundo naqueles ombros. Mordi seu pescoço. Ela se assustou, de leve. Continuei mordendo suas costas. Ela se permitia.

Depois estávamos de frente. Ela sorria, um suave movimento dos lábios, apenas. A expressão nos seus olhos transformava o absurdo e o desejo em beleza e serenidade. Agora estávamos no chão. Minha mão ansioasa se adiantava. Dentro. Úmida. E, naturalmente, provei. Ela comprime os olhos, morde os lábios, e suas sombrancelhas arqueiam toda a sensualidade do mundo. Toda a sensualidade do mundo naquela expressão.

Daqui em diante o sonho começa a mudar, a sala fica iluminada, e surgem outras pessoas. No meio desta imagem confusa, permanecemos sentados no chão; eu disfarço minha nudez atrás de seu corpo e ela, também sem entender, se cobre com a toalha.

* * *

Certa vez classifiquei Almodòvar como "belo e doentio". Assim é o desejo. Assim somos nós.

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