sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sereia do Alado*

Queria escrever, uma historieta assim, bem psicodélica, sem pé nem cabeça mesmo, juntando cabeça de homem em corpo de cavalo: a leseira de um amigo meu, que se chama a Sereia do Alado.

Sentido mesmo, como não tem, precisa ser inventado: menina moça, mulher e louca, de batom na boca,  nasceu pra ser "artista", virou cantora de forró. Ela era uma sereia, peixe-morto fora d`água, e vivia no Alado, que pode ser tipo um povoado, onde mora gente crua, ouvindo ela cantar desafinado: "Meu amor, não faz assim, que eu sou sua/ Você me traiu, me trocou, me deixou na rua" - choradeira que todo mundo sabe porque acha que amar é mesmo assim.

Tanto é que a melosa melodia persuadia: a sereia dava show, grunhindo seu versado, jogando pra todo lado seu cabelo esgranhado, requebrando adoidado e deixando tudo besta os cabra do Alado. Foi quando apareceu um empresário - de bigode e peito à mostra -, oferecendo oportunidade, chance única de enricar: garantia de sucesso!

Tanto foi, que dali pro camelô, um pulo foi; em nem um ano, tudo quanto era carrinho de som estardalhava: "Meu amor, não faz assim, que eu sou sua/ Você me traiu, me trocou, me deixou na rua". A Sereia do Alado era o cd pirata mais vendido da parada.

Agora, quando a gente liga a tevê, vê a desgramenta gemendo com a voz  ruim e toda esculhambada; fez plástica na cara, mas ainda anda com aquela boca pintada - exu-maria, cavalo do cão, coisa mais malassombrada, fechando de salto, gritando mais alto, descendo até o chão, abalando na balada -;  anuncia o apresentador: com vocês, a sensação do momento, a maior cantora de brega, forró, maxixe-pop, a Sereia do Alado!

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