domingo, 11 de agosto de 2013

Pés de Planta*

Vejo tantas obras pela cidade, bairros surgindo, em construção. Mas não há árvores em seus projetos... tão triste. Não há verdadeiro progresso sem árvores. Não há qualidade de vida, nem macaquices de infância sem árvores.

Lembro de algumas que continuam plantadas na memória: o pé de pitanga no terreno baldio; a goiabeira de pele escorregadia, perigosa, e o coqueiro com riscos de traumatismo craniano nas casas das avós. No quintal dos meus pais tinha pé de mamão (que dava para arrancar canudos e fazer bolinhas de sabão), e tinha pé de ameixa. Uma das minhas maiores surpresas da vida foi acordar um dia de manhã e ver que tinham filhotes de melancia no quintal; deduzi que foram os caroços jogados depois de comer. Deve ter sido tão fascinante por ter acontecido aquela única vez, sem terem sido plantadas, sem serem esperadas – epifania de quintais. Não duraram muito, e não lembro tê-las comido.

Depois que viajei, encontrei pés de araçá, fruta que não conhecia. Colhia com as mãos e comia ali mesmo, sem precisar lavar. E ruas cheias de pequeninas mangas pelo chão, como pedras esverdeadas, enfeitando os caminhos de natureza.


Outras tantas esqueço, e não faço a justiça de mencioná-las. A memória às vezes nos faz saborear esses momentos, tão distantes, tão sem razão de ser – ou escrever. Que sirva então de apelo às autoridades inexistentes, ao bom senso dos construtores de cidade e moradores dos bairros do mundo: precisamos de jardins e árvores em nossas vidas.