sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nirvana*

Ou, A Flor Mais Bonita do Mundo


"Quanta experiência se pôde acumular? Quanto do mundo e de si mesmo foi possível aprender?" Eram pensamentos que existiam fora de seu corpo. Naquele momento, o que o preenchia não era senão uma torrente de sentimentos, como ondas de luz a percorrer toda sua extensão interior. Seu olhar não era de felicidade. Uma expressão de lânguida e comovida tristeza estava prestes a precipitar em sua face. "Tanto amor..."

A luz do dia invadia a casa e sua luminosidade ofuscante abraçava e envolvia todos os objetos que ali haviam. De pé, erguendo diante dos seus olhos uma fotografia presa entre os dedos, o universo aos poucos assumia a consistência de um silêncio infinito - "Tanto amor..." - do qual emergia, crescente, um coral uníssono, que lentamente ia dissolvendo todas as impressões e lembranças enraizadas naquele olhar imóvel. Tudo transformara-se em um movimento estático, vibração contínua, onde palavras não passariam de uma descrição vazia sobre o nada.

"Qual é a matéria do sentimento? O que acontece quando tudo acaba? Restará um último sorriso?" Mas o corpo continuava ali. As mãos continuavam ali. Os olhos permaneciam fixos, imperturbáveis, como a contemplar a flor mais linda do mundo. Quanto tempo terá se passado, na medida em que essa imagem se torna cada vez mais distante, mais calma e mais difusa, até se perder completamente no azul?

Afinal, quais terão sido as sensações extremas desta experiência única? O que dela irá permanecer? São perguntas que, como naquele momento, nunca terão existido; e que nunca poderão ser compreendidas, como todo o sentimento disperso no universo.

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