quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Máscaras*

Escrever é também assassinar eu. E se assim não for, não tem graça.
Enterrar as várias máscaras... no fundo, ouvir um grito de horror.

Mas tudo isso começou, porque me vi em alguém.
Vesti uma das expressões mais tristes... mais felizes.
Senti aquela deliciosa e única opressão no peito - ainda bem que era de tarde.

(Minutos, minutos...)

Aí então fui escrever, mas antes pensei: paramos todos para nos refrescar
no sol, precisava saber quanto tempo havia se passado:
"não sou bom com dinheiro, prefiro ter sem possuir, como a vida, o amor, a palavra...".

Aviso: eu que escreve também é personagem.
Não, não, não; não há nisso nem mentira, nem verdade, nem ficção.
Apenas é. Porque sou aquilo que sou, aquele que é. Por que não?

E sempre música. E sempre tempo, e sempre clima. Cidade e praia.

(Minutos, minutos...)

Tarde, espelho e jardim: é uma bela combinação, mas não um fim.
Eu mesmo só peço que haja vinho. É que o passado às vezes me atropela no presente - com que força!

É que eu não sei partir (pois só assim posso ser triste, sentindo saudade,
por sentir).
Aviso: não se engane com quem escreve.
Por favor, lembre-se apenas disso.

Por hora, me vou - já tarde.
Até logo ou adeus.

Eu.

3 comentários:

  1. Considero este meu primeiro texto de 2011. Sobretudo, pela linha diferente que ele segue de outros, seus antecessores, uma sequência que começa com Desencontro* e vai até Incursão* (interrompida apenas por Morfina, em versos), todos testos que pertencem a uma mesma família, com uma linguagem em comum: um misto de quase ficção, impressões e outros devaneios.

    Este, não. Como disse, segue outra linha. Mas se os textos vão continuar assim, não sei. Como diria Osho, "meu método é o caos". E o bom é variar, explorar muitas possibilidades.

    Clarice, versos livres, C. Jung (e aquela teoria do 'self', do inconsciente coletivo, individualidade e tudo mais...),psicodelia, MPB, questões de metalinguagem, prosa, verso, ficção e musicalidade; a velha relação entre sujeito e objeto, autor, eu-lírico, leitor. Enfim, um monte de coisa. Digo isso porque alguns acham justo estas informações e poeque algum referência pode ser útil na hora de ler.


    Anyway.

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  2. Não há como não concordar que esse seu texto é muito diferente dos outros.E essa linha de texto, em especial, me agrada muito.

    Há sempre um eu que se enuncia no texto, seja de forma implícita ou explícita - segundo a teoria do Benveniste.E esse seu texto me faz lembrar o Pessoa : "O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente"

    Por isso mesmo achei a escolha do título muito boa(como já comentei aqui outra vez, adoro a escolha dos seus títulos).

    Também gostei da frase do eu-lírico : "não sou bom com dinheiro, prefiro ter sem possuir" - um paradoxo que nos leva a reflexão.

    Mas lembre-se: não se engane com quem escreve.


    Eu, Fabi

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  3. Olás. Quanto tempo.
    "É que o passado às vezes me atropela no presente - com que força!" - essa frase eu achei demais.
    Muito verdade. Me parece até que essa frase permeia o clima de todo o restante.
    Parabéns.
    Grande abraço.
    Fred

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