sábado, 4 de julho de 2009

A Festa*

Houve uma festa. Embora tivesse sido convidado, como de costume, deixou-se levar pelas circunstâncias ao invés de comparecer voluntariamente.

O clima era aconchegante e devidamente alegre. A música e o murmúrio preenchiam o lugar por onde se confinavam pequenos grupos de pessoas.

Acompanhou-se de uma bebida e quando necessário participava da conversa de seus amigos. Tinha a irrelevante preocupação de estruturar suas frases de maneira que não fossem vazias ou inconvenientemente profundas demais - afinal, era uma festa e não um debate acadêmico. Esse trabalho o cansava facilmente, e logo se perdia num olhar distante, que não tão inconscientemente procurava por qualquer espécie de epifania mundana. Quem sabe um olhar intrigante? Uma atração...

Nada. Multiplicavam-se trivialidades e sorrisos fáticos. Melhor assim. Definitivamente, não há lugar em uma festa para a misantropia e a distimia alheia - talvez, nem fosse mesmo o caso de assumir este auto-diagnóstico para si. Porquê simplesmente não inspirar a leveza leviana e expirar cordialidade?

Porque sim, um homem se torna aquilo que é.

Porque não, o silêncio não precisa doer tanto.

A festa continua. A bebida e a música trouxeram a distração e distante de todos havia um par de vasos de flores. Talvez fossem uma epifania, talvez fossem um refúgio. Eram lindas - e a beleza tem o poder natural de confortar e comover. Lindas e solitárias, como que esperando a companhia e o calor do olhar de alguém.

Depois desse encontro, a festa acabou.

.

2 comentários:

  1. nossa... visualizei diversas situações da minha vida no seu texto. Fabuloso e realístico? Sim... as fábulas vêm da vida real, creio eu.

    sim, porque eu bem me vejo nisso, como alguém que muitas vezes "deixou-se levar pelas circunstâncias ao invés de comparecer voluntariamente". e fábulas são possíveis de serem contadas em cima de cada momentinho desses... algumas boas, outras nem tanto.

    Mas eu gosto bastante de fábulas, seus caminhos... E gosto ainda mais quando elas são contadas em quadrinhos. Deus do céu, terminei a tatuagem das costas... quero te mostrar

    logo conversaremos ao vivo!!!!
    me veio a imagem de em uma festa, lá na kitizinha, você sentado e se embebedando aguentando aquela bad trip do cão de dor ou cálculo renal (entende porque calcular é realmente uma dor??? hehehe). é bom te ter como alguém que eu gostava de estar perto ou pensar ou até falar sobre (ou seja, mesmo voce estando distante, das festas que fui, muitas vezes vc foi lembrado por eu pensar que gostaria de estar em sua companhia ali naquele momento...), inclusive as mais felizes -em que eu não fui levada somente pelas circunstâncias, mas essencialmente mais pelo voluntarismo e vontade de estar :)

    são joão já acabou ou ainda dá tempo da gente pintar os dentes e ir pra festa?

    saudades do meu boi manso!

    ResponderExcluir
  2. Silvia, minha cow sister.

    Quase chorei lendo seu comentário, obrigado por pensar e se lembrar de mim com carinho - saiba que é recíproco.

    Achei muito bom você ter encontrado elementos de uma "fábula realista" pois o que eu queria era justamente misturar os traços da fábula, da primeira e terceira pessoa e do conto pra ver no que dava. Pelo menos pra mim o resultado foi razoável, principalmente dentro da minha escrita. Quero continuar investindo nessa modalidade do "micro-conto", ou "fábula realista", hehe.

    Os cálculos doem e o São João acabou, mas a gente pode pintar os dentes mesmo assim.

    Vem, Vaaaaaca!

    Beijos!

    ResponderExcluir