quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Arte da Tristeza*

Uma cena dessas, tão comum nos dias de hoje, o homem que antes ou depois do trabalho vai para o supermercado, fazer uma comprinha de coisas que estão faltando em casa.

Passeando pelos corredores e prateleiras, empurrando seu carrinho, sossegadamente, estica o braço, alcança um macarrão, molho de tomate, anda mais um pouco, precisa de pasta de dente, sabonete - e umas cervejinhas também, para relaxar em casa no final do dia.

Já no caminho do caixa, dá uma olhadinha na seção de entretenimento, que além de cd's, dvd's, tem livros também: receitas de comida, Sêneca, Ovídio, como se tornar muitas coisas, best-sellers em geral; mas um livro por acaso chamou sua atenção. O título era "A Arte da Tristeza". Começou a folhear as páginas e encontrou algumas frases, do tipo: "A tristeza, quando é um sentimento puro, livre de raiva e frustrações, pode trazer muita calma e tranquilidade; A felicidade é tão inocente! Frágil e iludida, como um adolescente; A lânguida tristeza é o estado de paz mais próximo da verdadeira serenidade."

Interessante. Quem sabe com uma dessas frases não poderia justificar para si mesmo, ou para alguém que o interpelasse, aqueles momentos que, sem nenhum motivo aparente, tinha vontade de ficar sozinho, em silêncio.

Resolveu levar o livreto. Sentiu vontade de mostrar para a esposa. E afinal de contas, era tão baratinho! Jogou ele entre os outros itens do carrinho, e antes de ir embora ainda deu uma olhadinha na seção de eletrodomésticos.

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2 comentários:

  1. Meu, o que me chamou mais a atenção foi a forma como o personagem começou o processo de pensar sobre o que leu e como isso parece cair por terra com o "jogar no carrinho e ir para a seção de eletrodomésticos". Me deu uma certa sensação de vazio. Talvez o rumo do texto devesse me levar para outras paragens, mas, enfim, foi o que rolou.

    Grande Abs

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  2. Frederico Mendes! É sempre bom quando você ressurge no blog fazendo comentários.

    Você tem razão quanto a sua observação; eu gosto de terminar minhas pequenas estorietas ficcionais ou de forma aberta e inconclusiva, e/ou quebrando um pouco com o tema principal, como neste caso. Não queria que, por se tratar de um tema tão pesado e incomodo como a tristeza, o texto por isso também se tornasse pesado, como um tratado ou texto teórico costumam ser, e optei por inserir o assunto numa cena banal, cotidianíssima. E o final do texto faz justamente isso, atenuar a reflexão sobre a tristeza, além de fazer alguma ironia com o lugar da filosofia e de reflexões intimistas desse tipo dentro do nosso contexto atual, de pressa, consumismo, entretenimento, alienação e/ou excesso de informação.

    Se pans.


    Valeww!

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