quarta-feira, 29 de junho de 2011

No Fim do Dia*

Celular, chave de casa, carteira;
aquele banho quente no final do dia...
- Droga, o ônibus já passou! Tsc,
esqueci de carregar a bateria.

Lembro da sensação de chegar na rodoviária,
o cheiro do bairro, o silêncio do mormaço...

Mas o cotidiano é maior
e só faz sentido o colchão para deitar;
no domingo, a tarde mal se vê pela janela
e o mês só começa quando vira,
o mês passa aos borbotões,
o ano finda, termina outra vez
-  depois continua.

Em qual lugar do ônibus devo sentar?
Vou comer o quê no almoço?
A semana, a segunda,
o sapato que estragou.

Tempo, nem coragem para um alongamento.
É tão triste não ter um alumbramento...,
uma epifania, todo dia
poder respirar e fechar os olhos por dentro
- depois sorrir, levemente...
sempre pensando nas curvas que o mundo tem.

O mundo tem curvas no fim do dia,
as ruas se repetem debaixo do sol,
das nuvens, dos carros, dos lugares, 
- dos mesmos lugares, 
em um mesmo instante
em uma mesma noite
diferente
com muitas músicas 
e um ritmo andante, às vezes repentino, inconstante, 
rumo a.

4 comentários:

  1. O mundo tem curvas porque é cíclico... É bom perceber que todo ponto de partida também é um ponto de chegada. Essa volta as raízes é muito revigorante... O texto me passou uma tranquilidade meio baiana... Até que enfim um título digno... Parabéns por isso, só.

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  2. Meu caro!

    Ler suas composições tem me dado outro prazer: pensar, também, sobre as pinturas que você tem colocado no fundo da página. No caso, "O Jardim das Delícias Terrenas"(Bosch). Vão sempre ser mudadas com novas postagens? Têm relação com as composições?

    Na verdade, não necessito dessas respostas!

    "No Fim do Dia", realmente, porque não, digno! Falando nisso, gostei do fim: "com muitas músicas/e um ritmo andante, às vezes repentino, inconstante,/rumo a." Fiquei um bom tempo nessa brisa.

    Acho que há constante evolução em suas composições. Não digo do pior para o melhor, não acho isso válido. Como posso dizer sem ser(muito) mal interpretado?

    ...

    Não consigo! Mas, fica o elogio!

    Espero a próxima!

    Abraço forte!

    Rodrigo Lima

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  3. Ops.
    Adorei este poema. Me deu a sensação de ciclo mesmo, como se fôssemos parte de uma engrenagem difícil de sair confortavelmente... sei lá, nem sei se essa leitura é válida nesse sentido. Gostei da possibilidade de fazer mias de uma leitura.
    Grande Abs

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  4. " O mundo tem curvas no fim do dia..." Impressionou-me a colocação das palavras, assim como a sensibilidade transeunte por entre elas. De fato, são curvas sinuosas, arriscadas, extensas, breves...um verdadeiro movimento uniformemente variado. Habilitados ou não trafegamos pelo mundo de curvas, aventuras e desventuras. Basta, o importante é movimentar-se, desbravando esse mundo de curvas.

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