sexta-feira, 22 de maio de 2009

Paciente*

Não seria fácil questionar o valor da paciência. É bom que a vida tenha a possibilidade de seguir um ritmo tranquilo. A paciência é a prática do Tempo; é quando se permite que esse determine o acontecimento das coisas. Mas nem por isso a paciência é isenta de sacrifícios; não é uma questão de simples convicção. Pois não é a aceitação do tempo que dá origem e define a paciência: é o estar sujeito. A mesma origem do paciente que agoniza no leito desejando convalescer; do ser passivo, sem possibilidade de reagir; é a mesma origem da doença - o sofrer de uma patologia -; a mesma origem da paixão, da cegueira passional: estar sujeito ao amor por alguém. A origem dessa condição é o antigo conceito de Pàthos, e o que define esta condição é não ser o sujeito dos acontecimentos, do amor e do tempo; é ser passivo, impotente, diante do sofrimento, da doença - ser um objeto da vida, que pode ser manipulado sem que lhe sejam atendidas as vontades, sem que se tenha escolha. Só um sujeito autônomo tem vontade e pode escolher, ao contrário de um doente que está sujeito, sendo objeto do seu próprio corpo.

Como então ter paciência, ser paciente, pode ser uma virtude? Como ser passivo e simplesmente esperar que as coisas aconteçam, como um refém, de mãos atadas, que aguarda e sonha com a liberdade - a liberdade das nossas vontades? Nossos dias não permitem que esperemos; tudo acontece ao mesmo tempo e é preciso resolver, agir, fazer, produzir e ser (que, no caso, é ter), agora e não depois. Não há tempo e não há lugar para a paciência. Esperar, de certa forma, seria como prostrar-se diante da realidade e do destino, ou render-se a forças divinas que estão além das possibilidades humanas.

Mas talvez seja justamente esse o princípio que, ironicamente, nos ajude a compreender a paciência: a aceitação. Não necessariamente a aceitação do destino, ou do divino - isso irá depender das convicções de cada um -, mas o esforço e a humildade para aceitar os nossos limites e os limites impostos pelo Tempo.

Esperar costuma não ser fácil, e deixar que a vida se passe num futuro imaginário - esse tempo virtual que não existe, e por isso, é o tempo onde tudo pode ser, geralmente, bom e perfeito -, enquanto nada acontece, pode ser tão tolo como aceitar uma infalível pílula de esperança, e seguir acreditando por acreditar. Esperar não é ter esperança; a esperança é o ato de esperar. Assim como ter paciência não precisa significar ser um paciente no leito do tempo; ter paciência precisa ser o saber esperar: ser um sujeito do tempo, no tempo.

"A inteligência é boa. A paciência é melhor."


2 comentários:

  1. Gostaria de dedicar este texto a minha querida companheira, que comigo é paciente enquanto juntos esperamos.

    E às minhas queridas amigas, Van e Bobilda, companheiras na arte de ser paciente e esperar.

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  2. É amigo... esse tempo não é um tempo regido pela paciência... mal há tempo para semear... mal há interesse em cultivar... esse tempo é um tempo de plantios rápidos e tentativas de colheitas instantâneas... Vivemos o tempo dos sem paciência.

    Abraço!

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