sábado, 11 de janeiro de 2014

Serenata*

(Repost 26.12.07)

Serenata. Palavra bonita. Sonora, sutil e musical; boa de se pronunciar: serenata. E além de designar a cantoria dos apaixonados, descobri recentemente que este também é o nome de um remédio, mais precisamente, de um antidepressivo. Achei curioso, impossível não me perguntar o que faz um nome tão bonito em um remédio, ainda mais em um antidepressivo. Que coisa. O que teria levado um químico, ou a empresa dona do fármaco, a dar-lhe justamente esse nome? Serenata. Terá sido um nome escolhido ao acaso? Duvido. Não só o acaso é algo muito discutível, como a sabedoria comercial de uma indústria de magnitudes globais, como a farmacêutica, nunca permitiria que seu produto deixasse de receber um nome convenientemente lucrativo.

Minha hipótese, ingênua e fantasiosa, é a que este químico, ou por já ter sofrido de amores, ou por ser possuidor de um terrível sarcasmo, deu este nome ao antidepressivo em alusão àquelas cantorias ao pé de janelas, querendo com isso insinuar que a depressão nada mais é do que o resultado de uma profunda e mortífera frustração emocional, que por sua vez, não passa de um amor mal resolvido.

Químico espertinho, e maldoso, caçoando dos trovadores malsucedidos, sugerindo que seu remédio seja a música capaz de curar os loucos do coração. Nem mesmo Machado, por incrível que pareça, foi tão irônico, e chamou seu ambicionado antidepressivo, cura para o melancólico vazio universal, simplesmente, de Emplasto Brás-Cubas.

É uma hipótese. Mas, de uma coisa podemos ter certeza: a medicina avança não só na cura dos males da alma e do coração, mas também na escolha do nome que dá aos seus produtos, pois confesso que entre um antidepressivo chamado Emplasto Brás-Cubas e outro chamado Serenata, eu certamente escolheria o segundo: Serenata!

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