domingo, 24 de novembro de 2013

Causo de Quase Morte*

(Repost 22.01.08)

Morri, por algum tempo. Não lembro de nada, nem fui lembrado: morrer é não lembrar.

Dizem que um rapaz caiu nas pedras. Socorreram-no, verificaram lhe os olhos, o pulso, e pensaram não mais haver vida em meio ao sangue. Talvez eu seja esse rapaz. Ao menos, temos essa cicatriz em comum.

Um amigo sempre que podia me contava o que tinha lido em um livro: que quando estamos à beira de um abismo, escutamos um chamado dele a nos convidar. É possível que eu tenha aceitado o convite.

Fico imaginando meu corpo - ou do rapaz -, triste e sem vida, sobre as pedras, e sinto pena. Não sei bem por que, mas sou capaz mesmo de chorar. Não vejo maior significado em minha morte do que essa comovida tristeza que sinto. Eu teria enfim encontrado o mar.

Lembro-me de outras vezes em que quase morri, por acidente, ou pelo amor que não encontrei, e no fim, resta-me essa comovida tristeza.

A vida insiste.

E o seu filho persiste, mãe.

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