Sei bem do que sinto, tanto que não falo - e assim é melhor.
[Nem poderia, como tentar explicar:
um repouso que fica escondido do lado da maçã e do cantinho do nariz.
Um cheiro, uma casa e as paredes que pintaremos de amarelo.
[Tudo simples, em ordem.
Decoramos a sala do amanhã com pouca coisa e muitas flores.
Às vezes tenho vontade de contar, mas sua presença é maior.
[- Saudade só de sentir saudade...
Não preciso pensar, só ouvir: "Boa noite, amor..."
Depois vou construir quarto, telhado - mas com as mãos vazias,
[esperando o tempo.
Vou armar a rede.
É difícil dizer, mas será tudo muito claro. Haverá janelas e luz do dia.
É difícil dizer, mas tens um rostinho...
E casa nada mais é do que carinho.
Bité,
ResponderExcluirSinto que este texto - em uma das idéias que podem ter povoado sua mente no momento de sua concepção - possui uma reflexão sobre algo que já conversamos algumas vezes e que é natural que um estudante das letras como você sempre refilta. O ponto é exatamente a linguagem, sua atuação e seus limites. Reconheço os limites da linguagem como uma descrição aproximada do que "é". A experiência direta sempre é mais decisiva e definitiva do que a mera experiência intelectual. Estes pensamentos me remetem a um texto zen que compartilhei contigo certa vez, intitulado "Por Que Palavras", onde se abordava exatamente as limitações da linguagem o seu lugar epistemológico. O mestre dizia ao discípulo que as palavras eram como dedos apontando para a Lua e que devíamos cuidar de olhar para a Lua e não nos apegarmos em demasia ao dedo que a aponta. Ao mesmo tempo, admitia que as palavras funcionavam como um adorno, muitas vezes necessário, para nos direcionar para esta experiência direta e profunda. Que sejamos capazes de nem nos apegarmos e nem nos desapegarmos em demasia às palavras. Que sejamos equilibrados no trato com eles. Que percorramos o Caminho do Meio, como já dizia o sábio e saudoso Siddhartha Gautama, o famoso Buddha.
Um abraço.
Exacto. A atuação e limites da linguagem são uma espécie de ponto de apoio do texto, que expressa várias vezes essa "dificuldade em dizer", em apontar a lua. Mas nota-se que nem por isso deixa de o fazer, certo? E nesse momento fica mais evidente o pretenso conteúdo lírico, nos adornos, de amarelo, flores, amor, casa e carinho...
ResponderExcluirSe pans.
Abraço!
construir seu lar é uma coisa que enriquece a alma. acho que é uma das nossas primeiras raízes que precisam ser fixadas pra se levar uma vida realmente adulta... essa conquista acho que muda muito nossa concepção de vida... muito mais do que o lance de sair de casa e ir morar sozinho, ou com amigos, etc.
ResponderExcluir(ou não: para os que não desejam ter raízes e só espalhar sementes por aí acho que isso não se aplica...)
...
aproveitando o gancho sobre o que se falou sobre seu estilo e seu cuidado em escrever sobre uma realidade que não se pode representar exatamente, é por não saber ter esse cuidado com os limites da linguagem que eu não me meto tanto com as palavras que constituem esse sistema tão propício a falhas de representação; por isso prefiro representar as coisas com uma imagem, se possível. não acredito 100% naquela história de uma imagem valer mais do que mil palavras, mas no meu caso se aplica bem essa máxima... :)
e uma coisa louca e tão por mim almejada é juntar os dois e conseguir passar deveras o que se sente, o que se passa; não exatamente passar uma mensagem ou verdade ( pq já sabemos que verdades absolutas são armaduras fracas do pensamento ), mas fazer sentir o que realmente se passa é um mérito e uma conquista... como a casa.
beijo meu querido boi!
vê-se claramente que a Paraíba está te fazendo muito bem :)
fico feliz, vc sabe o quanto.
"verdades absolutas são armaduras contra fraquezas de pensamentos"
ResponderExcluir- foi isso que eu quis dizer :)
E os cômodos são os dedos deslizando e fazendo pausas em cada curva do corpo.
ResponderExcluirAbraço!
Bruno, obrigado pela visita. Obrigado pela generosidade nas palavras.
ResponderExcluirE claro, é uma honra o link.
Grande abraço!