quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sete Anos no Tibet*

Dias atrás, terminei a leitura de Sete Anos No Tibet. Foi por acaso que este livro caiu em minhas mãos; não tinha exatamente a intenção de algum dia me dedicar a sua leitura; honestamente, nem mesmo sabia que havia um livro desta história conhecida pelo filme e quando vi Brad Pitt na capa do livro ainda assim não me senti muito atraído, resistindo mais uma vez em me entregar sem reservas a um best-seller (tenho esse medo bobo e involuntário de ser apenas mais um despreocupado consumidor de produtos que possivelmente tenham sido tenebrosamente elaborados para ludibriar e controlar as massas, principalmente quando se trata de algo que considero tanto, como a literatura).

No entanto, poucas páginas bastaram para me envolver e tive muito gosto em continuar a leitura - é dessas que deixam a gente triste e com saudade quando acabam. Embora essa distinção não seja fácil e esteja definitivamente clara pra mim,  não se trata de uma uma narrativa propriamente literária. O próprio autor, Heinrich Harrer, um respeitado aventureiro, faz essa reserva no prefácio do livro e diz que como não tem nenhuma experiência como escritor, se contentará em descrever os fatos. Realmente, é uma prosa essencialmente descritiva - que provavelmente se encaixa dentro do "gênero de aventura", aonde são feitos relatos de grandes e famosas expedições realizadas na primeira metade do século XX - mas nem por isso é cansativa ou penosa; pelo contrário, essa característica ajuda a visualisarmos as incríveis paisagens, situações e eventos descritos possibilitando que compartilhemos da experiência de um modo muito vivo, como se acompanhassemos de perto as peripécias e dificuldades da árdua jornada numa terra desconhecida, rumo à "cidade proibida", em meio a neve e as altitudes extremas das montanhas do Himalaia.

Além de conhecer um pouco mais sobre o Tibet - do qual, na verdade, eu nada sabia -, o que o livro me possibilitou, e o que achei mais interessante, foi poder pensar, com o exemplo de uma realidade específica, em como seria na prática o budismo como religião oficial. Pertencendo à precariedade de uma vida, individual e coletiva, baseada no cristianismo, e simpatizante de conceitos orientais-budistas, sempre fora fácil pra mim imaginar como seria melhor se nossos valores fossem determinados por um outro ponto de vista, menos belicoso, mais harmonioso, pacífico e individual. Mas, como demonstra a cultura tibetana ilustrada no livro, da mesma forma que a igreja católica, o budismo adotado como religião exerce a mesma função reguladora e opressiva na sociedade e no indivído que as outras instituições religiosas das quais tenho notíca, baseando a obediência à igreja e ao estado em crenças supersticiosas, medo, padrões sócio-econômicos, limitações e outros instrumentos do poder.

É verdade que o autor reforça o caráter pacífico do povo tibetano e outros pontos positivos do funcionamento de sua sociedade; e mesmo dentro de uma de suas inúmeras vertentes, o budismo é considerado como uma anti-religião (o que demonstra sua repulsa à institucionalização de seus preceitos), ou uma religião do indivíduo, mas nem por isso deixa de ser evidente os meandros hostis e insuficientes em que a humanidade se organiza a partir de uma religião, de modo que, para mim, continua valendo a sabedoria que ouvi sendo atribuída a Machado de Assis, "Têm pessoas que confundem amor com casamento e fé com religião", que serve bem àqueles que acreditam ser possível buscar um aperfeiçoamento que os torne pessoas melhores, sem com isso estarem necessariamente sujeitos a uma intermediação alheia e obscura, preservando assim uma relativa autonomia de sua consciência.


8 comentários:

  1. Genial, Bonequinho! Muito bem escrito e muito bem dito! Você é meu orgulho! Beijos!

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  2. Bité,

    Gostei dos seus comentários. Ainda não li este livro. Na verdade, após ler sua resenha crítica, fiquei até interessado em lê-lo. Interessante também foram as suas reflexões acerca das religiões institucionalizadas. Compreendo perfeitamente o seu raciocínio, mas, ainda continuo acreditando que o grande problema não são as religiões e/ou instituições religiosas em si mesmas. O problema é sempre o ser humano. Da mesma forma que se podemm enumerar muitos exemplo negativos praticados pela instituições religiosas, também podemos enumerar exeplos positivos. A Igreja Católica, por exemplo, sempre tão criticada, nunca é lembrada pelos seus religiosos ligados à Teologia da Libertação. Estes deram suas vidas, foram torturadas e militaram de forma exemplar nos anos da ditadura no Brasil, são os mediadores do diálogo entre o Exército Zapatista de Libertação Nacional (um dos mais incríveis movimentos populares do mundo) e o Governo Mexicano, salvando a vida de muitas pessoas por lá; também podemos citar a Pastoral da Terra, militam junto ao Movimento Sem Terra e outras organizações contra o latifúndio tão pernicioso que existe no Brasil, as campanhas contra a fome, falta de moradia, de vestuário, etc. Isso só a Igreja Católica. A ISKCON (Hare Krishna) tem o Food For Life, que é o maior programa de distribuição de alimentação vegetariana do mundo, que já distribuiu quase um bilhão de refeições vegetarianas ao redor do mundo, conseguindo alimentar um indivíduo com míseros 0,13 centavos de dólar. Eu poderia citar bilhões de outros exemplos de outras instituições e/ou religiões. Temos de entender, primeiramente, que no Tibete existe uma teocracia, ou seja, a religião e o Estado confundem-se, ou são a mesma coisa. Isso já torna a análise mais delicada. Mesmo em outras instituições que não se misturam ao Estado, como no exmplo destas duas que eu citei, temos de perceber que existe um microcosmo político dentro de cada uma delas. Existem setores mais conservadores ou progressistas, e a preponderância de algum grupo, muitas vezes geram políticas mais ou menos interessantes. Este é um problema da sociedade como um todo. Tudo se resume ao comportamento político, pois todas as mudanças só poderão ser feitas coletivamente. Considero ingenuidade privilegiarmos o indivíduo, pois isso é o que o capitalismo faz, e estamos vendo no que deu: metade do mundo com menos de dois dólares por dia. Também considero ingenuidade nos considerarmos à parte de tudo, ou não-rotuláveis. Ao fazer isso já estamos fazendo parte do "Grupo dos Não-rotuláveis". Tornar a sociedade um lugar mais agradável para se fizer depende de todos nós. As possíveis práticas negativas das instiuições religiosas são oriundas do pouco desenvolvimento espiritual de pessoas envolvidas em seu meio. Não é um problema da religião em si mesma. Na verdade, as próprias filosofias religiosas são as primeiras a criticar muitos dos aspectos lamentáveis de nossa sociedade.

    Escrevi, escrevi e nem sei se fui claro... Espero que sim.

    Um abraço.

    Adriano.

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  3. Opa,

    Então, enquanto eu concebia esse texto após ter lido o livro já contava com a sua opinião, Adriano, não só porque a respeito muito, mas porque também sei que você é deveras entendido no assunto das religiões, orientais, ocidentais, bem como em filosofia e também na interface sócio-política de tudo isso. Sabia que seu comentário viria a encrementar o tema, visto sob meu ponto de vista... restrito, talvez, ou mais pessoal.(É certo que um texto não pode abarcar tudo sobre um assunto, que é preciso que tenha unidade, portanto, limites, no caso, os meus.)

    Recentemente assisti um filme, "Em nome de deus", que mostra mais um dessses lados escabrosos da igreja católica, o que, apesar de ser um bom filme, não me deixou exatamente surpreso; assim como você, acho que mostrar o extremo de um lado não é mostrar o todo da questão, como as boas ações da igreja que sabemos existir e serem muitas (mas, enfim, não era essa a intenção do filme). Por isso concordo que existam lados bons e ruins na religião, como você nos exemplificou, e que, sem dúvida, o que determina a podridão da coisa é sempre o humano que está por trás; assim também como a politicagem toda acaba de fuder com tudo. Ou seja, realmente, parece não ser a religião em si, mas, outra vez, o exemplo prático-objetivo de sua aplicação, como no Tibet, deixa entrever mais ou menos como as coisas funcionam pelas mãos do homem, e foi isso que me chamou a tenção.

    Mas, quando você fala em individualismo e num "espírito revolucionário", ainda acho que pode ser diferente. Primeiro, que o individualismo citado só pode existir num período posterior ao surgimento do capitalismo, ou seja, pertence a um contexto histórico e é totalmente orientado por uma visão marxista (socialista?) da coisa. "Indivíduo" não pressupõe necessariamente o conceito de individualismo capitalista, o qual também acho escroto; na época de Buda e para o budismo, por exemplo, acredito que a noção de indivíduo é tomada de um modo completamente diferente (assim como também a noção de egoísmo está totalmente contaminada por uma idéia pejorativa, sendo que o termo se refere ao ego, ou sujeito/subjetivismo, sem nenhuma conotação de valor positivo ou negativo; por isso, é preciso cuidado ao afirmar um uso da palavra/conceito como sendo algo conspurcado; seria como acusar o budismo de ser uma religião capitalista, o que é, no mínimo dos mínimos, um anacronismo violento). Como imagem do "individualismo saudável", e ontológicamente viável, que parte da concepção do isolamento do homem restrito a sua própria percepção do mundo (que conceitual e filosoficamente recebe o nome de pespectivismo, e assim está ilustrado nas belas e grandiosas metáforas do Véu de Maia e o platônico Mito da Caverna, que nos pintam essa impossibilidade do sujeito alcançar o mundo objetivo, o Outro), sempre me lembro do momento no romance de Herman Hesse sobre a lenda de Buda em que Sidharta se separa de Govinda na busca de seu próprio caminho, individual portanto, que só por ele pode ser alcançado.

    E esse questionamento me leva a outro, o do "espiríto revolucionário" como meio de promover a igualdade e bem-estar geral. Não discordo que as coisas precisam ser feitas, que uma ação deve ser tomada, principalmente quando se trata do bem-estar público e social. Mas, particularmente, desacredito em revoluções - ainda mais porque são geralmente entendidas como rupturas absolutas, o que a gente sabe que não acontece. E porque, ontológicamente, necessitam da participação do outro, aquele que é inalcançável pelo sujeito, e talvez por isso seja "o inferno" ("O inferno são os outros"). Todos sabemos o quão falha pode ser essa postura - e quão violenta. Pois foi com a intenção de atingir o outro, mudar suas idéias (torna-lhes a imagem e semelhança de outra idéia) , que grandes atrocidades foram cometidas; esse é, por exemplo, o espírito dos conquistadores, das cruzadas e colonizações. Por isso, brincando sério, eu me propunha a outra alternativa, da involução, ao invés da revolução, de me tornar uma pessoa melhor, o que teoricamente dependeria só de mim, e, possivelmente, seria capaz de propagar essa paz até quem sabe chegar ao outro; por isso a simpatia pelo individualismo da filosofia budista - que deixa evidente o muitas vezes criticado caráter passivo de sua postura, de sua inação (que se contrapõe a ação revolucionária).

    Sem dúvida é muito ingênuo o pôr-se a parte das coisas e optar por não participar, não pertencer a este ou aquele movimento fazendo parte, assim, do "movimento daqueles que escolheram não participar de nenhum movimento". Seria tão ingênuo como escapar da linguagem e de suas dicotomias essenciais, que são responsáveis por nos obrigarem a essas condições de sim ou não, de pertencer ou não pertencer, porque se é isso não se pode ser aquilo (a velha categoria aristotélica - e bem retórica, por sinal - do "ou é ou não", pois não se pode ser e não-ser uma mesma coisa, como por exemplo, ser preto e ser branco, ser homem e ser mulher); desse modo, estamos subjulgados, limitados, sem possibilidade de renúncia ao que desejamos não pertencer, sem possibilidade de ponderação, sem a possibilidade da ambivalência, que conjulga o sim e o não e somos obrigados a escolher, a definir - mas então (na minha opinião) que seja aos que renunciaram, que desejaram não pertencer pertencendo assim ao "grupo dos que desejaram não pertencer", que se enganaram ao acreditar em utopias como neutralidade, harmonia, caminho do meio.

    E por aí vai...


    Abraço, manu!

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  4. Bruno!

    Que delícia isso! Um blog dentro de outro blog dentro de outro.

    Muito bom essa saudável discussão, de troca de idéias, de idealismo, entre você e seu amigo.

    Abração!

    PS.: você falou em "em nome de Deus"... sugiro também "O Nome da Rosa".

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  5. Bité, (Parte 01)

    Gostei muito de suas argumentações. Você realmente é uma pessoa muito inteligente. Concordo contigo quando você fala acerca da impossibilidade de se conhecer o “Outro”. Realmente, conhecer o “Outro” de maneira INTEGRAL é impossível, porém, ainda acredito que um bom diálogo, um grande debate e uma experiência histórica acumulada, ainda podem levar a boas doses de consenso. Ainda mais quando se trata de questões tão cruciais. Historicamente, podemos verificar que aconteceram grandes atrocidades em nome de um ideal coletivista, como você bem citou, porém, isso não quer dizer que há algo errado com o coletivismo em si mesmo. Isso são deturpações do ideal de uma coletividade saudável que ocorreram devido a falibilidade humana na sua aplicação. Não é porque erramos anteriormente que não podemos acertar em uma próxima vez. Se é possível defender o individualismo em meio a um mar de problemas que este trouxe, dentro de sua face ligada ao capitalismo, também podemos vislumbrar um outro tipo de ideal coletivista.

    Interessante sua colocação sobre a historicidade do individualismo. Você diferencia a postura budista da capitalista. Realmente, são bem diferentes. Porém, não podemos nos esquecer que, mesmo na época de Buddha, havia uma desigualdade social enorme. A crítica socialista é mais direcionada ao capitalismo, porque este era (e ainda é) o sistema econômico vigente na época em que Marx e Engels e outros pensadores cunharam seus princípios, mas, na verdade, a crítica socialista é em relação a desigualdade e a exploração como um todo. E estas existiam, e muito, na época de Buddha. Não podemos acreditar em uma Índia antiga romantizada. E, esta desigualdade existia porquê? O que leva alguém a querer explorar o próximo? Será que é da natureza humana? Será que é a ganância? Isso pode ser discutido, mas, qualquer que seja a resposta, com certeza, invariavelmente passará por uma boa dose de individualismo da parte do opressor. Se você não se interessa pelo outro, se você tem uma posição de superioridade em relação ao outro e é individualista, é óbvio que fará tudo o que a humanidade vem fazendo. O individualismo é muito anterior ao capitalismo. Este exercício do individualismo saudável aconteceu, em minha opinião, em muito poucas pessoas. Um Buddha é um em bilhões. O individualismo, de maneira geral, pelo homem comum, sempre é exercitado em sua face obscura, a do prejuízo ao próximo. Creio que o individualismo, historicamente falando, já causou muito mais estragos ao mundo do que o ideal coletivista.

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  6. Bité (Parte 02 - Continuando)

    Temos de refletir também que Siddhartha, apesar de renunciar a tudo, só fez o que fez porque era um príncipe, ou melhor, um kshatriya. Se pertencesse a outra casta, como a dos intocáveis por exemplo, ou se tivesse o chicote do opressor ás suas costas, ou se tivesse de lutar arduamente pela sobrevivência, não lhe restaria muito tempo para filosofar sobre as verdades da vida, como estamos aqui fazendo, via internet.

    Tal reflexão me lembra um texto do Point Of No Return sobre as origens do Straight Edge, mais especificamente, sua primeira fase: “A primeira dessas perspectivas trazia uma idéia marcante de eu-sozinho-contra-o-mundo. Tinha como principais expressões o Minor Threat – do qual o próprio termo SXE surgiu – e o 7 Seconds, além de outras bandas que vinham principalmente de Washington DC. O SXE dessa corrente possuía uma grande carga de individualismo – um valor que, ela já havia observado em outras ocasiões, parecia percorrer de maneira intensa as visões e posturas de grande parte dos americanos, estruturando desde perspectivas progressistas até as mais conservadoras. O próprio hardcore já era a continuação de um individualismo saudável e positivo que formava a base da postura punk, porém o SXE dessa geração iria levar tudo isso ao extremo: era a oposição da oposição, a expressão máxima desse individualismo. “Não fumo, não bebo, não meto. Pelo menos eu consigo pensar”, dizia seu lema – que ela carregava na ponta da língua. Era o princípio de cada um fazer o que bem quisesse de sua vida; de ficar fora de compasso com a sociedade; de não precisar prestar contas de nada a ninguém; ou, como sintetizava a grande metáfora, de ser a ovelha negra. Sustentando essa postura, a crença ferrenha, decorrente desse mesmo individualismo, de que cada um é senhor absoluto do próprio destino – negligenciando, talvez, que, para a ovelha negra dissidente escapulir , havia sido crucial a participação de outras ovelhas solidárias para distrair a atenção do pastor".

    Quem eram as outras ovelhas da época de Buddha? Milhões de famintos, miseráveis e explorados. Que ainda existem. Estamos aqui, confortavelmente debatendo via internet (com a barriga cheia) alguns assuntos filosóficos, exatamente porque não temos de nos preocupar com questões básicas de sobrevivência. E, mesmo assim, porque estamos apenas conversando, dialogando, se fôssemos advogar algum tipo de postura mais agressiva, provavelmente seríamos mortos ou presos. Nossa individualidade existe enquanto não se torna questionadora demais. Quando se limita a não provocar muitas alterações na realidade a sua volta, quando não questiona o status quo. Se existe alguma liberdade de expressão hoje, ainda que extremamente limitada, é porque muitos deram suas vidas para isto. Pensando na coletividade. Atuando coletivamente.

    Acho interessante a idéia da involução, ou revolução interior, como prefiro chamar, e atualmente, devo dizer que nado praticando mesmo é isso, mas, creio que este estágio é precedido por outro ou pelo menos anda em conjunto, que é satisfação das necessidades básicas de sobrevivência. Quem não come não filosofa e, particularmente, penso que somente soluções coletivas podem resolver este tipo de problema. A revolução interior tem de junto com metas coletivas.

    Gosto do equilíbrio. Deve existir o apreço as questões individuais e a busca pelas soluções coletivas, mas, ainda acredito que, se um dos dois tiver de ser sacrificado, que seja o primeiro. A dignidade tem de ser universal. E este será uma construção coletiva.

    Sobre a ambiguidade: a tradição védica admite que Deus é acintya-abhedabheda-tattva, ou seja, simultaneamente igual e diferente ou imanente e transcendente a tudo. Quer algo mais ambíguo que isso?

    Abração.

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  7. Salve,

    Li e reli seus textos e acho que talvez tenhamos chegado a nossa boa dose de consenso. A fome é irrefutável, a desigualdade, a faliabilidade humana também são e não estamos os dois a defender o individualismo ou coletivismo, que em si, como demonstramos, não podem ser considerados bons ou ruins. Nosso diálogo talvez tenha sido bem útil justamente em mostrar a dificuldade que há em assumir deliberadamente esta ou aquela postura sem pensar na consequência que esta terá em si mesmo e no próximo. Ou seja, é difícil, ou mesmo impossível pensar as duas coisas separadamente - o que é muito interessante, porque nos leva diretamente ao centro da questão: o equilíbrio entre as duas partes.

    Poderíamos ficar por muito tempo discutindo qual dos dois é pior e isso nos levaria a muitos outros lugares, como, quando, por exemplo, você diz que o individualismo é sempre exercitado em sua face obscura, em prejuízo ao próximo, sendo que pra mim isso tem origem essencialmente na falta de respeito - para com o próximo, para consigo. (Sem contar no péssimo exemplo da atividade pública, coletiva, que é a política.) Mas, enfim, estamos bem alimentados e sentados em frente à internet - o que também me dói -, discutindo e nos organizando ideologicamente para que em algum momento, esperamos, tomar uma atitude construtiva, realmente benéfica, em nosso contexto.

    Acho que o maior e mais bonito símbolo dessa dolorosa entrega, conexão, do indivíduo ao próximo é o sacrifício e crussifixação do filho do deus, que doa a si próprio por amor a humanidade.

    É bonito.


    Abraço!

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  8. Só para constar: acabo de assistir o filme, Sete Anos no Tibet, e, como era de se esperar, me sinto bastante frustrado. Não digo que como filme este seja ruim; mas como adaptação, é repugnante - na minha opinião. Fiquei impressionado em como conseguiram transformar o protagonista e autor num completo imbecíl, arrogante e intratável (senti vontade de esmurrar Brad Pitt durante todo o filme), o que determina e distorce os eventos da história. Também não há no livro qualquer menção a uma esposa e filho abandonados na Áustria, o que inventaram com o pretexto de justificar a relação afetiva com o jovem Dalai Lama - e tantas outras coisas que não existem no excelente livro.
    Enfim. Me pergunto o que justifica essas opções feitas pela direção do filme. Espero que como divulgação da causa tibetana este tenha se saído melhor.

    É isso aí.
    Mais uma vez é preferível a história contada por bom livro.
    (O que não me impede de amar as adaptações de Batman, Homem-Haranha e cia., rsrsrs)


    Hasta.

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