segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Nordeste*

(Repost 12.04.08)

Há no horizonte um continente de nuvens.
Almoçamos tainha, peixe em posta,
macaxeira que derrete na boca,
conhecemos os donos e filhos do bar,
somos amigos cordiais,
percorremos pequenas estradas do interior:
o Nordeste é um sentimento
de palavras, costumes, paisagens.

Há no fundo uma gravidade ontológica
a permear o suspiro profundo,
o sincero sorriso de canto,
a tranquilidade de estar.

Há no fundo uma tristeza que não é triste
- que por falta de nome é vontade de amar -
Conhecer muitos lugares, percorrer distâncias
Em busca de nada, uma liberdade congênita
Ter descanso de rede, balançar à meia luz - casa limpa.

Mas ter também regaço de colo, de carinhos
convulsivos, loucos, de união absoluta e impossível.
Aquietar em bom sentir
Sabendo o interessante, desistir dos porquês:
será o dessentir o estado ideal de existir?

Os prazeres não explicam,
o vazio, a natureza,
pois a consciência há de continuar incomodando
mesmo que a vida seja um óbvio
e insignificante caminho para a morte.
Quem sabe quando a paciência for
um verdadeiro gesto natural
certeza de realidade e prática.

Quem sabe assim
Fechar os olhos
A vida passando
A vida passando...

2 comentários:

  1. "Uma tristreza que não é triste." Adoro parodoxos e sentimentos que existem a partir deles.

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