Não tem mistério, só complicação: acordou, trabalhou, comeu, dormiu. Eis a rotina diária de todos os dias para um cidadão minimamente assalariado. Pouco encantamento, muito esforço e ainda menos tempo para fazer qualquer outra coisa, do tipo pensar, viver, viajar...
Mas nem tudo é martírio. A felicidade é do tamanho de um crediário e tem o sabor e a simplicidade de um pão com ovo. E esta felicidade tem uma data mais ou menos certa para acontecer: o maravilhoso, o sagrado, o quinto dia útil! Não há evento mais aguardado na vida do humilde proletariado. Quando enfim chega essa época de brevíssima fartura, aí então é um regozijo só - melhor do que andar pelado em casa -, até que a fartura novamente dê lugar às faturas - o que geralmente acontece antes mesmo do décimo dia útil - e tudo retome seu ritmo usual de recessão, apertos e privações, o que, na visão de um devoto trabalhador, não são senão necessárias provações a enfrentar até que aconteça a próxima virada de mês, e com ela chegue novamente o santo dia de mais um pagamento.
O jeito é trabalhar. É o que há de mais digno a fazer. O que não dá pra ter agora, ou parcela ou deixa pra depois, porque tudo, um dia, vai melhorar. Com as bênçãos do capitalismo, é só ter fé que tudo vai dar certo.
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Gostei muito muito desse texto :D faltava mesmo vc escrever alguma coisa sobre o capeta.
ResponderExcluirAs descrições ficaram muito boas, lembrei da Úrsula dizendo: "O tempo parece está dando voltas". O jogo com fatura/fartura foi muito inteligente, dá até pra usar seu texto e falar sobre as palvras parônimas xD
E a finalização do texto ficou muito boa: a 'velha ideia fixa' de que tudo vai dar certo. Esse tom irônico do texto me fez lembrar do Saramago.
Como sempre seus textos me remetem as boas referências que tenho.
:*
ta escrevendo bem q é uma beleza heim imundiça!!!
ResponderExcluirtem me confortado tanto qnto ramones e black sabbath. parabéns! Continue assim.
Hehehhehe Ao contrário de muitos textos em que, mesmo que estejamos inseridos no contexto/personagem do texto, criamos algo que nos distancia do mote em si, neste eu consigo nos ver claramente, o dia após dia: o quinto, o décimo, e o resto dos outros se arrastando entre felicidades pequenas porém sinceras e os apertos de cinto.
ResponderExcluirAbração! Como sempre, tudo genial por aqui!
Que lindo o Filhão por aqui ;)
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