sexta-feira, 26 de junho de 2009

Diálogos*

Platão e Buda estão sentados juntos em uma mesa de bar, dessas de metal descartável, a mais ordinária possível.

Platão tem uma perna cruzada sobre a outra e toma cerveja num copo americano. Seu aspecto de estátua é levemente grave; veste a indumentária clássica e é todo pálido como mármore desgastado pelo tempo.

Buda deixa seu cigarro repousado em cima de um cinzeiro; tem estampado em seu rosto um sorriso de serenidade e as duas pernas estão cruzadas sobre a cadeira, em sua postura habitual. Seu corpo é dourado e suas vestes coloridas.

Não conversam muito. Mas é possível perceber que gostam da companhia um do outro e que compartilham uma sutil e silenciosa concordância.

- "Pois é..."

- "Será que chove?"

E assim os dois passam juntos os finais de tarde da eternidade, tranquilamente, a contemplar a vida sentados em uma mesa de bar.

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domingo, 14 de junho de 2009

Quando Chegar a Hora*

Abrir a porta, pisar em casa
Respirar fundo e correr as paredes...

Abrir as janelas, sair na varanda
Fechar os olhos e voltar para dentro...

Te abraçar a cintura, dançar em silêncio
Girando na sala, à luz da tarde...

Desfazer as malas, arrumar os cantos
Descansar as pernas de andar por aí...

Regular o sono, perder as olheiras
Acordar logo cedo e ganhar um beijo...

Viver o presente, acalmar o corpo
Cuidar de fazer e seguir adiante...

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Expansão*

Acontece de ser maior o sentimento
e não obedecer ao que vem de fora

Por um momento
estar completamente envolvido
por uma visão
como um selvagem nu
que se confunde com o céu azul

Acontece de ser uma súbita expansão
sem limite compreensível

O que foi se não leve existência
emocionada e comovida

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terça-feira, 2 de junho de 2009

O Brasil da Copa*

Já é a segunda vez que me pego pensando e escrevendo em torno de uma futura copa do mundo. Será essa uma intuição ainda não decifrada? Ou será apenas um resíduo subliminar das informações que circulam? Quem sabe, embora não seja essa incógnita o mais importante no momento - deixemo-la para outra ocasião, pois o que interessa agora é falar sobre a copa de 2014, que será realizada no Brasil, em 12 cidades recentemente divulgadas, para alegria geral e felicidade da nação. Ou terão aqueles que desaprovam a realização deste mega evento em solo brasileiro? Eis outra incógnita que deixaremos para depois. Pois agora é hora de imaginar como será a enorme transformação pela qual passará nossas cidades, estádios, estradas e transportes. Há os incrédulos, que por saberem como as coisas funcionam - ou deixam de funcionar - em nosso país, deixam-se abater pela desesperança, como se, por experiência, soubessem que as obras não serão concluídas, ou serão fatalmente condenadas por desvios de verbas e corrupção. É um receio compreensível - e justo. Por isso, talvez, a maior vantagem da copa seja justamente a de não depender exclusivamente de nosso governo; como as obras devem obedecer a prazos e critérios rígidos para que possam satisfazer as condições necessárias para a realização dos jogos, e como vários comitês e países estão envolvidos - sobretudo no que diz respeito à fiscalização e eficiência -, a chance de que tudo não acabe como promessa de campanha é muito maior e mais segura. Talvez a copa do mundo de 2014 traga mais mudanças e melhorias estruturais ao nosso país do que qualquer candidato já eleito; mais do que qualquer política econômica já adotada.

E em se tratando de economia, muitos, assim como eu, já devem estar pensando em poupar um dinheirinho para assistir aos jogos. Deixar de sair no final de semana: "não posso, tô economizando pra copa". Afinal, supondo que a moeda continue a mesma e o capitalismo não tenha sofrido o colapso definitivo, os valores até lá terão sofrido alguns reajustes. Por exemplo: com um bolacha Passatempo custando sete reais e quarenta centavos e uma passagem de ônibus a três e trinta, provavelmente um ingresso não sairá por menos de seiscentos reais e uma camisa da seleção poderá chegar a custar bem uns duzentos e cinquenta reais. Ou seja, uma fortuna! Pelo menos nos tempos de hoje. De qualquer forma, é bom começar a guardar, nem que seja por apenas noventa minutos, mas talvez cheguemos a um estádio sem precisar pegar um ônibus lotado com cento e dezessete pessoas gritando e debatendo-se, depois de horas de fila para comprar um ingresso, e ainda sentar numa boa poltrona, ao invés de se acomodar no humilde e saudoso concretão de outrora, sob o risco de tomar chuvas que não caem só do céu.

A copa é o Brasil do futuro?