Vejo
tantas obras pela cidade, bairros surgindo, em construção. Mas não há árvores
em seus projetos... tão triste. Não há verdadeiro progresso sem árvores. Não há
qualidade de vida, nem macaquices de infância sem árvores.
Lembro
de algumas que continuam plantadas na memória: o pé de pitanga no terreno
baldio; a goiabeira de pele escorregadia, perigosa, e o coqueiro com riscos de
traumatismo craniano nas casas das avós. No quintal dos meus pais tinha pé de
mamão (que dava para arrancar canudos e fazer bolinhas de sabão), e tinha pé de
ameixa. Uma das minhas maiores surpresas da vida foi acordar um dia de manhã e
ver que tinham filhotes de melancia no quintal; deduzi que foram os caroços
jogados depois de comer. Deve ter sido tão fascinante por ter acontecido aquela
única vez, sem terem sido plantadas, sem serem esperadas – epifania de quintais.
Não duraram muito, e não lembro tê-las comido.
Depois
que viajei, encontrei pés de araçá, fruta que não conhecia. Colhia com as mãos e
comia ali mesmo, sem precisar lavar. E ruas cheias de pequeninas mangas pelo
chão, como pedras esverdeadas, enfeitando os caminhos de natureza.
Outras
tantas esqueço, e não faço a justiça de mencioná-las. A memória às vezes nos
faz saborear esses momentos, tão distantes, tão sem razão de ser – ou escrever.
Que sirva então de apelo às autoridades inexistentes, ao bom senso dos
construtores de cidade e moradores dos bairros do mundo: precisamos de jardins
e árvores em nossas vidas.